Torcedor NÃO é cliente

Imagem: Luis Perdomo

Leio no blog da querida Carmen o desabafo de um torcedor avaiano com o descaso da Secretaria - e do clube, por extensão - com ele e sua família. Segundo o Estevão - esse é o nome dele - vai deixar de ser avaiano e incentivar a filha a torcer pelo rival por causa do acontecido.

Inicialmente, sei que ele não deixará de ser avaiano - se o fizer, é porque nunca o foi de verdade, o que pelo relato sentido eu não acredito. Quero creditar as palavras duras à frustração com o tratamento recebido, nada mais. Estevão vai deixar de ser sócio, com certeza, mas nunca de ser avaiano. Já ouvi dizer - e concordo - que uma pessoa troca de emprego, de partido político, de cônjuge... mas nunca de time de futebol. Não dá. Tenho certeza que no início de janeiro nosso amigo já estará agoniado à espera do dia 22, data do primeiro jogo oficial na temporada 2012.

Falo por experiência própria: eu mesmo deixei de ser sócio do clube por causa da falta de consideração e respeito, mas nem por isso deixei de sofrer e torcer apaixonadamente pelo Avaí. E sabem o que aprendi com essa história? Que, ao contrário do que os marqueteiros tentam nos fazer acreditar, o torcedor NÃO É, nem nunca será, cliente do clube de futebol. Nossa relação envolve paixão e é esse sentimento que torna esse convívio diferente.

Foto retirada do blog Avaixonados

Quando você é cliente, as coisas são mais simples. Se é mal atendido ou não recebe o que comprou, troca de fornecedor e pronto. No futebol isso não funciona. Ninguém troca de time porque está aborrecido com o seu; ou porque paga 100 reais por mês e o clube faz "promoção" de 10 reais para os outros torcedores; ou porque foi rebaixado; ou, ainda, porque tentaram fazê-lo acreditar que um elenco de semi-amadores preguiçosos seria o melhor da história do clube. A paixão não permite mudar. Você apanha, se aborrece, briga, mas volta sempre com o rabo entre as pernas. E o que recebe de volta por essa submissão? Via de regra, mais porrada e frustração, com eventuais momentos de alegria. E essa é a beleza de ser torcedor e nada vai mudar essa relação.

Provavelmente, o maior culpado pelo descaso dos clubes é o próprio torcedor. O clube sabe, mesmo que inconscientemente, que por mais que destrate, o "cliente" estará sempre ali. E não faz a menor força para agradar esse torcedor, salvo honrosas exceções Brasil e mundo afora. Mas se é assim, o que fazer? De prático, quase nada. Podemos pedir - até exigir - melhor tratamento, mas se esse não nos for concedido, não faz mal: estaremos lá no dia seguinte, de cabeça baixa pedindo "arrego". E vai ser sempre assim. É duro, mas verdadeiro: não somos nem nunca seremos clientes dos clubes de futebol. E ponto.